Bem Vindos ao blog da Manú. Este espaço é para os amigos, papais e mamães que perderam seus anjinhos!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A morte e a saudade

O texto abaixo é de autoria de Drª Teresa Paula Marques - Retirado do Blog Sapo "Mulher"


É um texto longo, porém muito sábio! Sublinhei algumas frases que achei interessantes... espero que gostem!
Não há maior dor que a dor da perda e, por muito que queiramos, não existem airbags emocionais que nos protejam dela

Ao falar na morte, falamos inevitavelmente na saudade que sentimos de alguém que partiu. As horas parecem dias, os dias parecem semanas e, subitamente, ao olharmos para o calendário, constatamos que se passaram longos anos. Manteve-se inalterável a lembrança do perfume, do gesto, do sorriso.

O tempo não apaga, mas aconchega a dor. Arranja-lhe um cantinho ao fundo do peito. E, nesse cantinho, a recordação permanece viva, iluminada, até ao fim da nossa vida.

De vez em quando, tem que se arranjar mais espaço para que consigam acomodar outras dores. Desarruma-se tudo, volta-se a mexer em todo o passado que se esconde na recordação de um desgosto vivido, de uma perda sofrida. A morte unifica-nos. Perante ela sentimo-nos, de fato, infinitamente pequenos e tudo se relativiza. Que interessam os problemas profissionais? Que importa não podermos ir ao Brasil no final do ano?

O que separa a vida da morte, não passa de uma frágil linha que a todo o momento ameaça quebrar-se. Felizmente, é raro pensarmos na nossa própria morte. Quando sucede é porque sofremos a perda de alguém e esse fato acorda-nos a angústia. Por isso vivemos o dia-a-dia como se fossemos imortais, como se nada nos pudesse acontecer. Conduzimos sob efeito de álcool, negligenciamos campanhas que pretendem ser assustadoras, porque nada disso nos toca, só acontece aos outros.

Atiramos para longe essa realidade, mas o efeito boomerang faz com que um dia sejamos esmagados por ela. Creio que não existe maior dor que a da perda. Por muito que queiramos arranjar airbags emocionais, face à perda o único caminho é viver o luto. Entristecemo-nos, choramos, achamos que a vida perdeu todo o sentido. Cada pessoa vive a morte à sua maneira, sendo que a dor não tem, na sua essência, grandes diferenças.

A manifestação da dor é que difere, sendo que o sofrimento silencioso pode ser mais penoso já que socialmente é mais aceitável que a pessoa expanda a sua dor de um modo visível. Quantas vezes ouvimos dizer coisas dos gênero “coitada como ela chorava, via-se mesmo que gostava muito dele”... como se a dor se medisse em lágrimas!

A dor pode ser vivida no silêncio, como algo só nosso que não queiramos partilhar com mais ninguém. Outras pessoas, perante a notícia da morte de outros (sobretudo quando falamos de alguém muito próximo como filhos ou pais) dizem “eu não aguentava” como se, de algum modo, apontassem o dedo a todos aqueles que perante essas perdas conseguiram levantar arranjar força para continuar a viver. Costumo perguntar-lhes que alternativa teriam, certa que um ser humano aguenta a maior parte dos sofrimentos, sobrevive à maiores agruras que a vida lhe reserva.

Claro que alguns desistem, ficam pelo caminho porque entram num processo de luto patológico, ou de autodestruição, porque a sua estrutura psicológica não era suficientemente equilibrada. Mas essas são as exceções, não a regra. Certo é que um dia a ferida transforma-se em cicatriz. Aprendemos a conviver com a dor. Voltamos a conseguir sorrir e, com freqüência, passamos a dar mais valor às pequenas coisas.

Pensamos com carinho nos amigos que nos ajudaram a ultrapassar os momentos difíceis. Espantamo-nos com a frieza de alguns que considerávamos próximos e com a delicadeza de outros que nem sequer pensávamos poder contar. A morte tem destas coisas. A realidade dá-nos uma estalada e, das duas uma, ou nos tornamos mais fortes apesar das cicatrizes emocionais, ou sucumbimos perante ela. Não existe terceira hipótese.


Nenhum comentário:

Postar um comentário