Vou escrever abaixo, uma passagem do livro que estou lendo atualmente, que se chama "A cidade do Sol", do mesmo autor de "O caçador de Pipas", chamado Khaled Hosseini. Indico ambos os livros, pois são ótimos...
"A cidade do Sol", entre outras coisas, fala da historia de uma mulher muçulmana chamada Mariam, que se vê obrigada a casar com apenas 15 anos, com um homem com mais de quarenta, isso tudo depois que sua mãe Nana se mata enforcada.
Bem, o que vou mencionar abaixo é a passagem do livro onde Mariam, que estava grávida, perde seu filho, em um aborto. Essa passagem mostra tão bem o sentimento que nós mães tivemos e ainda temos em relação a nossas perdas. Segue...
(...) A dor continuava a surpreender Mariam. Bastava ela pensar no berço inacabado, ali no galpão do jardim, ou no casaco de camurça guardado no armário de Rashid (marido). Com isso o bebê ganhava vida e ela podia ouvi-lo, podia ouvi-lo resmungar, com fome, podia ouvir seus murmúrios e seus balbucios. Sentia a criança farejando os seus seios. Aquela dor a invadia, a dominava, revirava todo o seu ser. Mariam estava estarrecida: como podia sentir tanta saudade de alguém que jamais tinha chagado a ver?
(...)Mariam estava com medo de sair. De repente tinha inveja das mulheres da vizinhança com aquela profusão de filhos. algumas delas, com sete ou oito, não percebiam a sorte que tinham, como eram abençoadas por aquelas crianças terem florescido em seu útero, sobrevivido para se remexer em seus braços, mamar em seus seios. (...) Mariam ficava indignada quando ouvia aquelas mulheres se queixando porque os filhos não se comportavam ou as filhas eram preguiçosas.
Uma voz, em sua cabeça, tentava consolá-la com palavras bem intencionadas, mas inúteis.
"Você vai ter outros filhos, Inshallah. Ainda é jovem, com certeza terá outras oportunidades".
Mas a dor de Mariam não era vaga e indeterminada. Estava sofrendo por aquele bebê, aquela criança em particular, que, por algum tempo, a tinha feito tão feliz.
Às vezes, achava que o bebê tinha sido uma benção que ela não merecia, e que estava sendo punida por algo que tinha feito. (...) Outros dias, ficava torturada pela raiva, tudo aquilo era culpa de Rashid, seu marido. (...) Não, não era de Rashid. A culpa era toda dela. Teve raiva de si mesma por dormir na posição errada, comer coisas condimentadas demais, não comer bastante frutas, tomar muito chá.
A culpa era de Deus, por zombar dela daquele jeito. Por não lhe conceder o que concedia a tantas outras mulheres. Por acenar para ela de forma tão sedutora, com a coisa que a deixaria mais feliz e, depois, voltar atrás.
Mas de nada adiantava tudo aquilo, todas essas acusações, toda essa procura por culpados. Ter esses pensamentos era até um verdadeiro sacrilégio. Allah (Deus) não é malvado, não é um Deus mesquinho.
As palavras de mulá Faizullah ressoavam em sua cabeça: "Bendito seja aquele em cujas mãos está o reino e que tem o poder sobre tudo, que criou a vida e a morte, para testar-vos e saber quem de vós age melhor".
Dilacerada pela culpa, Mariam se ajoelhava no chão e rezava, pedindo perdão poe esses pensamentos.
Impressionante como essa passagem do livro retrata tão bem o sentimento da perda de um filho! Vou procurar ler esse livro, deve ser realmente muito bom.
ResponderExcluirBeijos, e fique com Deus!